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5CIÊNCIA VERSUS SOCIEDADE:

PROGRESSO MATERIAL VERSUS DESORDEM SOCIAL. O CLICHÊ DE NOSSOS TEMPOS — MAS O QUE ISTO TEM A VER COM MASHIACH? (II)

 

Discutimos anteriormente a emergência da ciência como um prelúdio para a vinda de Mashiach. O que dizer, por outro lado, sobre a decadência social e o vazio pessoal, a desordem, a frustração e a depressão que se tornaram lugar-comum? Quanto a isto, também, há fatos: casamentos fracassam, famílias desintegram-se, a AIDS e o abuso de drogas destroem nossos filhos, desapareceu a confiança, a auto-gratificação substituiu a moralidade e os relacionamentos, a doença e a pobreza alongam as fronteiras da miséria. A despeito de toda a terapia e aconselhamento, mal conseguimos manter nossa sanidade e a possibilidade de uma vida significativa afasta-se de muitos, voando à nossa frente como uma folha ao vento.

Mesmo assim, isto também é uma pré-condição para Mashiach, prevista pelo Talmud, que afirma que o tempo que antecede Mashiach terá a face de um cão: os filhos desprezarão os pais, imperará a arrogância, o errado será chamado de certo, qualquer um fará o que lhe aprouver, e a malha da sociedade será esticada e rompida. Os centros de vida — ordem social, virtude pessoal e realização pessoal — se estilhaçarão em fragmentos microscópicos.

Por quê? Prontamente podemos compreender que precisamos nos libertar da pobreza e da fome para nos concentrarmos na espiritualidade interior da vida e apreciarmos a Divindade da criação. Mas isto também não é verdade psicologicamente falando? Não é verdade que a depressão e a ansiedade obscurecem nossas mentes? Como é que a discórdia social e a desintegração pessoal são um prelúdio para Mashiach?

Antes de o mal ser banido, ele se erguerá para uma última grande luta, intensificando-se, atacando a parte mais íntima e sagrada da sociedade e dos indivíduos, ascendendo como uma febre  antes de ser debelada. Esta tumultuosa luta final contra o mal acontece tanto em público como em particular. A ciência e a tecnologia possibilitam-nos lutarmos contra os males da guerra, da pobreza e da fome. O grande conflito da sociedade nos últimos duzentos e cinqüenta anos foi transformar as ferramentas da física, da medicina e da tecnologia da destruição para o progresso, de meios de degradação para instrumentos para melhoria da humanidade. O grande conflito moral foi transformar o desespero em alegria, o egoísmo em generosidade.

Pois, assim como ocorre com qualquer descoberta, desde aquelas da moderna medicina até o poder do átomo, elas podem ser usadas para o bem ou para o mal, e assim também qualquer impulso ou desejo natural pode ser usado para santificar ou perverter. Antes de Mashiach, precisamos travar todas as batalhas e superar a inclinação para o mal que está dentro de nós. Rabi Schneur Zalman, fundador do movimento Chabad, explica que a indulgência para com nossos desejos, a gratificação de nosso ego, é ruim, pois isto contradiz o objetivo da criação do homem, que é cumprir a vontade de D’us, dirigir todos os nossos pensamentos, palavras e ação de nossa alma, visando exprimirmos e revelarmos a Divindade essencial dentro de nós.

E precisamente a riqueza material e o conforto físico representam a maior oportunidade de nos iludirmos conosco mesmo e para a corrupção moral. A riqueza pode conduzir à mentira e à auto-suficiência. Como afirma a Torá: “Quando você prosperar, tenha o cuidado de não dizer para você mesmo ‘Foi minha própria força e meu poder pessoal que me conduziram a esta prosperidade’. Lembre-se de que o Senhor seu D’us lhe dá o poder de se tornar próspero”. O egoísmo e a arrogância da auto-gratificação conduzem à depravação moral e ao abuso.

Mas, preparando-nos para Mashiach, mediante um pequeno ato de bondade, uma medida adicional de caridade, podemos romper o espírito do mal e do desespero Regozijando-nos na bondade, acreditando que Mashiach está aqui para abrir nossos olhos para vermos, afirmando nossa fé no princípio de Mashiach — um dos treze princípios fundamentais enumerados por Maimônides, talvez a maior autoridade judaica de todos os tempos, poderemos restaurar os vínculos da sociedade, reaver a solidariedade e recuperarmos o significado da vida.

O desafio consiste em transformarmos o desespero em alegria, o auto-engano em generosidade, a complacência para com o mal em moralidade. Este é o pré-requisito para a era de satisfação, felicidade, harmonia e paz universal. Isto trará Mashiach.

Como é que Mashiach transformará a natureza humana e a natureza do mundo? Não será a inveja, a preguiça, a arrogância, o ódio e a ira próprios das pessoas, e o conflito, a guerra, a agressão, o preconceito e a opressão inatos às nações? Como, então, pode Mashiach, um indivíduo só, tão rapidamente e miraculosamente transformar o que parece ser fragilidades naturais, confusões e defeitos em virtudes e ideais antes inatingíveis?

Ensina-nos o judaísmo que cada pessoa é essencialmente boa. A negatividade da condição humana resulta de influências externas, tanto da interação com outras pessoas como dos sofrimentos e durezas que suportamos. Não somente os eventos naturais e as influências impessoais, tais como a mídia e o governo, mas até mesmo encontros com pessoas próximas a nós, como pais, professores e amigos, podem causar desarmonia, conflito e confusão interior. Mas tudo isto apenas oculta a bondade inerente a toda a criação.

A asserção de que todos nós somos essencialmente bons, deriva da crença de que, visto que D’us criou, e está continuamente criando o mundo, a essência de toda existência é esta energia Divina.

Quando Mashiach vier, D’us nos permitirá remover nossa capa externa, de forma que nossa verdadeira bondade interna se exprima por si mesma. O ódio, a inveja, a preguiça, a raiva — os acréscimos externos ao verdadeiro cerne da humanidade desaparecerão. Da mesma forma, D’us eliminará a doença, a fome e outros sofrimentos, pois a bondade inerente da natureza também emergirá em todas as áreas da vida.

Por que isto? Qualquer pessoa sensível que acredite num Criador deve concluir que Seu mundo não visava somente toda a dor e sofrimento que experimentamos no passado. E, na verdade, o judaísmo sempre ensinou que todos os eventos da criação até o presente fazem parte de um processo. Toda meta requer esforço, dificuldade e um combate contra o que nos distrai. Um estudante, por exemplo, vai à escola, fica acordado a noite toda estudando, faz exames e, simultaneamente, precisa lidar com mudanças emocionais e sociais na vida. Muito disso parece, na ocasião, irrelevante para a obtenção de um diploma. Mas quando, após graduar-se, o estudante se vê capaz de ganhar a vida, então ele compreende as razões para suas lutas e sua competência essencial torna-se evidente. Similarmente, quando Mashiach vier, compreenderemos que todo o sofrimento de agora não é mais que parte de um processo, que se tornará manifesto na era de Mashiach.

Qual a razão principal pela qual o mundo foi criado? A paz e a harmonia da era messiânica simplesmente exprimem o estado mais espiritual que virá a existir, porque a humanidade toda reconhecerá que D’us é o Criador e que Ele criou o universo para atingir um propósito espiritual, para fazer do físico uma morada para o Divino.

Quando Mashiach vier, teremos a capacidade de apreciar, e o desejo de cumprir, nosso propósito espiritual. E não poderá haver sensação maior de realização de que o conhecimento de que estamos vivendo em função do objetivo de nossa criação. Não pode haver sentimento mais profundo de satisfação do que a própria legitimação de uma pessoa, o sentimento de pertencer. Razão pela qual os judeus, ao longo da história, têm sido obcecados pela esperança de Mashiach. “Quando é que este tempo, a nós prometido por D’us, se tornará uma realidade?” Não será um tempo de melhoria neste ou naquele aspecto da vida, mas assinalará uma transformação todo-abrangente. Porque então a identidade mais profunda e mais verdadeira de toda pessoa e de toda a natureza se evidenciará.

Quando uma pessoa, D’us nos livre, está em coma, não encaramos sua nova condição como uma melhoria neste ou naquele aspecto de sua saúde. É uma transformação total, que a tudo abrange, que afeta toda fibra de nosso ser.

Assim, também, antes que a bondade e a Divindade inatas à criação sejam reveladas, o mundo está num estado de inconsciência espiritual. A vinda de Mashiach manifestará aquela identidade oculta, o melhor de dentro de nós, e portanto afeta todos os aspectos de nossas vidas e pode ser sentido em cada detalhe de nossa existência.

A esperança por Mashiach, então, é a esperança que temos de realizar o potencial que D’us nos deu, do espiritual ao físico.

Esta é a esperança de todas as esperanças.