Ad Matai! Editoriais Matérias Opinião Histórias Links Expediente Email

41 — O MÊS DE AV

O mês de Av, o mais trágico para o povo judeu, está também intimamente associado a Mashiach. As tragédias, infelizmente, são-nos todas familiares. No nono dia do mês de Av — Tishá Be’Av, a geração do Êxodo foi condenada a morrer no deserto por ter aceito o relato dos espiões, e, gerações mais tarde, naquele dia, ambos os Templos foram destruídos. Ao longo de toda a história judaica, mesmo nos tempos mais recentes, muitos desastres aconteceram em Tishá Be’Av. Na verdade, nossos sábios declararam que quando começa o mês de Av, deve-se reduzir a alegria.

Mesmo assim, Av — ou, como ele é mais comumente denominado, Menachem Av — será também um mês de Mashiach. Como pode ser isto?

Podemos começar a compreender a ligação entre a dor atual e pesar associados a Av — Menachem Av — e a futura salvação, conforto e regozijo que acarretarão, resolvendo um paradoxo relativo ao próprio nome do mês. Pois, dado o significado do nome “Av”, não faz sentido que um mês assim denominado possa representar problemas demais para o povo judeu. A conotação da palavra “Av” é — misericórdia!

Em primeiro lugar, a própria palavra significa “pai”, implicando especificamente — como constatamos que é usado em muitos contextos — o aspecto misericordioso de um pai. Em segundo lugar, mesmo a ordem das letras sugere misericórdia. Como explica o Zohar, a disposição alfabética de uma palavra pode significar alguma coisa. A ordem alfabética inversa, de baixo para cima, digamos assim, indica julgamento e severidade, como vemos com Tishrei, o mês do Divino Julgamento, cujas letras, estão em ordem alfabética invertida. Por outro lado, se as letras estiverem na ordem alfabética correta, de cima para baixo, como acontece em Av, então indica misericórdia.

Como, pois, pode o mês de Av ser o mês de tanta retribuição e tanta punição? Ou, como podemos enfatizar que um pai seja — basicamente — misericordioso quando os Provérbios declaram: “Ouça, meu filho, as instruções de seu pai” e “Aquele que ama seu filho disciplina-o desde cedo” — clara indicação de que um pai deve castigar e repreender?

Ambas as perguntas, por certo, têm a mesma resposta: retribuição e reprimenda são somente aspectos externos do amor verdadeiro de um pai por seus filhos. Uma expressão exterior de julgamento e severidade reflete um relacionamento interior baseado na misericórdia.

Na verdade, visto que tudo provém de Hashem, tudo que acontece é na realidade bom e misericordioso; isto é particularmente verdade quanto à Sua conduta para com seu povo, Israel, pois eles são os Seus filhos. É justo que, como já vimos algumas vezes, a misericórdia e a bondade se expressem mediante admoestação e castigo. Mas existe também uma misericórdia mais elevada, que está acima da lógica da causa e efeito. Visto ser essa misericórdia tão profunda, ela não pode ser revelada; ela precisa se revestir, na prática, no julgamento — assim como a disciplina de um pai é a expressão mais profunda, menos revelável, de seu amor.

Podemos encarar isto de outra maneira: quando uma pessoa está sendo julgada, a bondade normal não bastará. O atributo de julgamento se opõe a qualquer expressão aberta de compaixão. Assim sendo, o atributo de misericórdia se mascara no julgamento — a censura externa. Mas o próprio ato de disciplinar pulveriza o atributo de julgamento, suscitando posteriormente uma proximidade ainda maior, uma manifestação maior, ilimitada, de misericórdia.

Conseqüentemente, o mês é chamado de “Av”.

Mas, na verdade, o mês tem uma denominação adicional: Menachem Av. No que tange aos documentos oficiais, o mês chama-se “Av” (sem a palavra “Menachem”); mas quando se abençoa o mês, ou quando se fala dele, o costume judaico (que também é Torá) é chamar o mês de Menachem Av.

Quando abençoamos o mês nós o cognominamos “Menachem Av” porque a intenção é atrair para o mês inteiro (incluindo os dias anteriores, que são uma preparação para o novo mês), “salvação e conforto”. Por conforto — o significado de “Menachem” — queremos exprimir o “conforto” maior, o consolo interior que vem, especificamente, após a dor e o pesar. O costume judaico de dizer especificamente “Menachem Av” exprime nosso desejo de que as misericórdias atraídas não sejam ocultas no julgamento, mas que sejam abertamente reveladas, tangíveis.

Uma história ilustra o ponto de “Menachem Av”: o Rebe Maharash perguntou certa vez a seu pai, o Tsemach Tsedek, sobre uma alusão mística de que o ano de 1848 era particularmente propício à vinda de Mashiach. O Tsemach Tsedek respondeu: “O que quer você? A vinda de Mashiach é uma revelação do aspecto íntimo de uma alma: publicamos neste ano o Likutei Torá, uma obra fundamental do pensamento místico, que é a revelação do aspecto interior da Torá. Através dela haverá uma revelação do aspecto interior da alma”. Disse o Rebe Maharash, simplesmente: “Mas queremos que a vinda de Mashiach seja abertamente revelada, que seja tangível”.

Nós, também, queremos o conforto, o regozijo, a misericórdia interior de Menachem Av de uma maneira aberta, revelada, tangível. Queremos Mashiach agora.