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30 — O CARÁTER DO REI (I)

Um rei, para governar adequadamente, isto é, visando somente o benefício dos outros, precisa possuir quatro características principais: sabedoria, força, riqueza e honra. Como Mashiach será — precisa ser — um rei, é preciso também garantir que ele possua estes traços. E, na verdade, o profeta Isaías explica que D’us instilará em Mashiach certos atributos que farão dele um paradigma para a humanidade: “E o espírito do Senhor estará sobre ele, um espírito de sabedoria e entendimento, um espírito de resolução e força, um espírito de conhecimento e de temor do Senhor”.

Estas características, que representam as características ideais da humanidade, pertencem não apenas a Mashiach, mas existem, em potencial, dentro de cada judeu. A revelação desse potencial é o catalisador para Mashiach.

Examinemos isto mais detidamente: quando Mashiach chegar — ou se revelar — teremos a capacidade de reconhecê-lo. Isto é óbvio, pois de que outra forma saberemos que a Redenção chegou? Mas, como Mashiach pode vir a qualquer instante, precisamos também ter esta capacidade agora, não apenas potencialmente, mas na prática. Em outras palavras, visto que em todas as épocas precisamos ser capazes de identificar Mashiach, isto significa que um judeu — qualquer judeu — tem a capacidade de receber a revelação de Mashiach.

Isto tem outro aspecto: a própria capacidade de antecipar Mashiach, de reagir à possibilidade de Redenção, indica que possuímos, em algum grau e num certo nível, as qualidades de Mashiach. Pois, se não as tivéssemos, caso Mashiach fosse — D’us não o permita — totalmente à parte de nossa experiência ou de nossa percepção inata, a Redenção seria incompreensível e o conceito de Mashiach, inimaginável. Mas, graças a D’us, podemos pensar a respeito de Mashiach e constantemente vislumbramos as condições e os ideais da Redenção, eis que elas bem que fazem parte de nossa natureza básica. Dito em termos mais tradicionais, todo judeu tem uma centelha de Mashiach.

Sendo este o caso, qualquer um pode — e deve — esperar atingir o ponto em que são dignos de, e na verdade cumprem o que está escrito, isto é, “o espírito do Senhor estará sobre ele”. Esta expectativa é tão importante, que “o espírito do Senhor” estará sobre nós, que se tornou parte especial de nossa liturgia. Rezamos por sua realização três vezes por ano, nas festas de Pessach, Shavuot e Sucot. Quando retiramos a Torá de sua arca, há uma oração singular na qual suplicamos a D’us por misericórdia e bondade. O texto das palavras de Isaías é parte integrante desta súplica.

Podemos ir mais além: visto que as características que Isaías enumera se relacionam com qualidades que associamos a um rei, ou que dele esperamos, e visto que todo judeu possui uma centelha de Mashiach, todo judeu também deve ter, num certo grau, estas características de um rei: “Um espírito de sabedoria e compreensão, um espírito de conselho e força, um espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. Podemos mesmo dizer que elas exprimem não somente a natureza ideal de um líder e um governante, mas também os tipos de realeza “interna” necessários para que alguém dirija — homem ou mulher — seu eu visando a atingir seu potencial e seu propósito. Quer dizer, precisa haver um domínio sobre a própria mente — “um espírito de sabedoria e entendimento”, precisa haver um domínio sobre as emoções, sobre nosso próprio caráter — “um espírito de resolução e força”, e precisa haver um domínio sobre a conexão da mente com as emoções, “um espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. Combinados, eles produzem um quarto nível de realeza, de domínio, por assim dizer, um domínio do todo.

Não basta, então, que em Mashiach seja instilado “Um espírito de sabedoria e entendimento, um espírito de conselho e de força, um espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. Se verdadeiramente queremos experienciar a Redenção, precisamos tornar completo nosso domínio interno. Se esperamos tomar parte e cumprir nossa responsabilidade em relação à vinda de Mashiach, nós também precisamos desvelar a centelha de Mashiach dentro de nós mesmos.