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23 — PROCESSO OU REVELAÇÃO (II)

Como Mashiach virá?

Na mensagem anterior discutimos a tradição segundo a qual Mashiach virá subitamente, miraculosamente, num piscar de olhos.

Mas existe também uma tradição segundo a qual a redenção será um processo lento, demorado e dificultoso. Assim, no Talmud, o movimento em direção à redenção é comparado ao surgimento da aurora. Haverá um período de confusão e de tumulto: as pessoas duvidarão de Mashiach, questionarão suas qualificações, e até mesmo o perseguirão — devido à incerteza e ao caos daqueles tempos. Mashiach aparecerá até mesmo como um pobre, humilde, montado num jumento, como diz o profeta.

De acordo com esta perspectiva, o tempo anterior a Mashiach será de dificuldades sem precedentes. Haverá um aumento de problemas pessoais: dilemas espirituais, relacionamentos em deterioração, traumas emocionais. Haverá desastre econômico, rebeliões nacionais e internacionais. Tudo isto culminará numa guerra apocalíptica.

Na verdade, a Lei Judaica, tal como codificada por Maimônides, o grande filósofo e legislador judeu, declara que Mashiach precisa vir de um modo natural. Escreve ele que Mashiach não terá de fazer milagres — será, isto sim, um rei da casa de David que compelirá todo Israel a observar a Torá, que travará as guerras de D’us, reunirá os exilados e reconstruirá o Templo. Profecias sobre transformações da natureza são somente metáforas para a era de paz universal, que somente ocorrerá após a guerra final contra os inimigos do povo judeu.

Assim sendo, ao contrário da tradição que nos fala de uma revelação súbita e miraculosa, ainda que pacífica de Mashiach, a tradição de um processo natural de redenção nos fala de um período de tumulto e violência imediatamente anterior a Mashiach.

Por que a redenção alcançada através dos esforços humanos, mediante o progresso humano, será necessariamente precedida de caos, destruição e confusão? E qual a vantagem em ser ela desta maneira, desta possibilidade?

Podemos começar examinando de novo a afirmação do profeta Isaías que nos diz quando Mashiach virá: “Em seu tempo, eu o apressarei”. Se o povo judeu for digno, D’us apressará Mashiach, trará miraculosamente a redenção, inesperadamente. No entanto, se não forem dignos, então Mashiach — e a redenção — virão “a seu tempo”, por meio de um processo lento, árduo, natural.

Na natureza, toda transformação, todo crescimento de um estágio da existência para o seguinte, exige um período de retirada, desenvolvimento, e, finalmente, uma luta interna violenta para que emirja a nova e transformada criatura: uma borboleta precisa lutar para romper o casulo tecido pela larva e esforçar-se para romper sua casca.

Assim, também, emergindo a humanidade para a nova era, o tempo da redenção, quando o mundo estará repleto do conhecimento de D’us: primeiro teremos de romper a casca de nosso materialismo, irromper através do casulo de nossa indiferença espiritual — tanto individualmente como coletivamente — para chegarmos à verdadeira percepção da Divindade que está dentro de nossa existência. Nossos sábios o exprimem dizendo que, conforme a dor, será o retorno.

Isto, a propósito, também indica a vantagem de irmos nos desdobrando, naturalmente, por meio de nossos preparativos para isto, nossa Torá e mitsvot: mediante nosso esforço e nossa luta, poderemos levar o mundo a um nível mais elevado de purificação, realçando a bondade distintiva da redenção e intensificando sua santidade. Nossos trabalhos dirigem o mundo.

Assim, há duas respostas que se opõem quanto a como virá Mashiach, como chegaremos à redenção: ou por meio de uma revelação pacífica, avassaladora, vinda do Céu ou mediante um processo natural de conflito e desenvolvimento, de dolorosa manifestação.

Na próxima mensagem veremos como a tradição judaica concilia estas duas abordagens.