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19 — AHAVAT CHINAM (AMOR GRATUITO)

O verão é uma época de crescimento, de esperança, de vitalidade. Mas no auge do verão vêm as Três Semanas, o período da destruição do Beit HaMicdash — o Templo. Durante essas três semanas, costuma-se restringir nossa alegria, para tornar vívida a realidade do exílio. O fim das Três Semanas é o jejum de vinte e quatro horas de Tishá Be’Av — o nono dia do mês de Av — quando ambos os Templos foram destruídos.

As Três Semanas começam com o jejum durante o dia 17 de Tamuz. Neste dia, as muralhas de Jerusalém foram rompidas, marcando o início do fim. E nossos sábios nos dizem por que as muralhas foram rompidas, por que — ao final — o Templo foi destruído: por causa de Sinat chinam — ódio gratuito. O exílio resultante de tal animosidade sem justificação ou causa durou, aproximadamente, dois mil anos até os dias de hoje.

O que é Sinat chinam? Como ele “irrompe através de uma muralha?”

Conta o Talmud a história de Kamtsa, o amigo, e Bar Kamtsa, o inimigo, de uma certa pessoa rica. No meio da sua festa, essa pessoa descobriu que seu inimigo, Bar Kamtsa, tinha sido convidado acidentalmente em vez de seu amigo. Ele se recusa a ouvir a súplica de Bar Kamtsa no sentido de não ser humilhado em público ou sua oferta de pagar todas as despesas. Em vez disso, põe Bar Kamtsa para fora à força, que, como represália, então incitou Roma contra o povo judeu.

O anfitrião não pôde aceitar Bar Kamtsa sob circunstância alguma. Qualquer reconhecimento seria admitir que, a despeito das diferenças entre eles, existia um intrínseco relacionamento. Permitir que Bar Kamtsa ficasse significaria haver uma conexão, e portanto, em algum nível, um compromisso, Isto para o anfitrião era impensável.

E esta é a essência do Sinat chinam, ódio gratuito: a recusa de reconhecer um relacionamento, uma conexão, um compromisso para com outrem, não por causa de alguma coisa que a pessoa houvesse feito, mas tão-somente por causa da pessoa, pela sua presença, intrusos em “meu espaço”. Sinat chinam significa que o simples fato de a outra pessoa existir é uma ofensa.

Que é que isto tem a ver com uma muralha, especificamente, com as muralhas de Jerusalém?

Uma muralha tem tanto um significado físico como um espiritual. No sentido físico, uma muralha protege os que estão dentro dos invasores indesejáveis, e, ademais, une aqueles que estão dentro de seus limites numa única existência, forçando o reconhecimento do vínculo entre tais pessoas. Quando a muralha é rompida, ambas as funções se vêem perturbadas — os inimigos podem penetrar na cidade, e as pessoas podem ignorar suas obrigações, abandonar a cidade, romper sua unidade.

A muralha espiritual tem características correspondentes. A muralha que circundava Jerusalém unia todos os judeus numa única existência mediante total Ahavat Yisrael — amor pelo irmão judeu. Isto porque dentro daquela muralha localizava-se o Beit HaMicdash, o Templo, representando o relacionamento definitivo, a mais elevada conexão e o mais profundo compromisso. Lá as pessoas ofereciam sacrifícios — que eram a expressão visível de um dar precedência a outro, de negar o “meu espaço”, por todo o povo judeu e, na verdade, pelo mundo todo.

Sinat chinam, uma falta de união, uma falta de consciência da conexão essencial entre o povo judeu, provocou o exílio. Então, para trazermos a Redenção, precisamos corrigir a causa do exílio: precisamos praticar Ahavat chinam, amor incondicional, um amor pelos outros que não tem causa nem justificativa. Para trazermos Mashiach, precisamos reconstruir a muralha, por assim dizer, reconhecermos nossos relacionamentos, nossas obrigações. Verdadeiramente, precisamos exprimir nossa unidade essencial mediante Ahavat chinam — um amor total, irrestrito.

Agora podemos ver por que uma das tarefas básicas de Mashiach será reconstruir o Templo, restaurar a muralha que protege e une. E é o nosso Ahavat chinam — nossa aceitação aberta de qualquer compromisso para com os outros — que trará Mashiach — o rei e Redentor que a todos nós unirá dentro das muralhas da Divindade.