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10 — QUEM É MASHIACH? (III)

Por que a Halachá — a Lei Judaica — declara que Mashiach precisa ser um homem? Trata-se de uma boa pergunta, mas uma pergunta incompleta. Podemos também indagar por que Mashiach precisa ser um sábio em todas as facetas do conhecimento judaico. Afinal de contas, a maioria dos governantes não é formada por eruditos. E existem outras restrições: a Halachá também afirma que Mashiach não pode ser um Cohen — um descendente da família de Aarão. Mashiach não pode ser da tribo de Levi — ou de qualquer tribo exceto Judá. Mesmo dentro da tribo de Judá, há restrições. A Lei Judaica declara que Mashiach precisa ser descendente de um homem — o Rei David, em linha direta, de pai para filho.

É claro que a lei que determina quem pode ser Mashiach tem base diferente das leis civis de uma sociedade moderna. As leis e os regulamentos de um país democrático moderno têm uma finalidade específica — criar uma sociedade equilibrada. Desta maneira, as pessoas podem perseguir suas metas pessoais sem prejudicarem a comunidade. Em tal contexto, excluir as mulheres — ou qualquer grupo ou pessoa, por estas razões — de certas atividades, parece ser apenas uma tentativa de manter o poder ou tomá-lo de outros. Naturalmente, isto é tido como injusto.

Mas a Torá tem um fundamento diferente. As leis da Torá não servem à busca pelo poder de uma pessoa ou de um grupo: elas não equilibram interesses conflitantes. As leis da Torá provêm de D’us, e ajudam toda a humanidade a cumprir o propósito de D’us, um propósito espiritual.

De acordo com a Torá, toda a humanidade partilha o mesmo propósito, qual seja, criar um mundo onde toda ação — coletiva e pessoal — revele a Divindade dentro da criação. Para atingir esta meta, cada pessoa tem uma tarefa específica, definida por D’us e determinada, em parte, por condições que estão além de seu controle, tais como as circunstâncias de seu nascimento.

As leis da Torá — o registro da Vontade de D’us — estabelecem a missão de cada indivíduo. Algumas tarefas são determinadas pelo gênero, outras pelo fato de ser judeu ou não, algumas pelos ancestrais de uma pessoa. Todos são criados com as características tanto de um grupo como com capacidades individuais. A combinação destas características possibilita que cada pessoa cumpra uma única atribuição, algo que ninguém mais pode fazer. É-nos dada a capacidade de cumprirmos nossa missão, mas apenas porque também são-nos dadas diferentes capacidades, como pessoas e como grupos.

É importante lembrar que a Torá ensina que cada pessoa é absolutamente necessária para o cumprimento do plano Divino, que não somos apenas indivíduos visando a consecução de nossos desejos ou necessidade de poder. Todo ser humano foi criado como parte de uma equipe, cada qual com uma tarefa ímpar sem a qual a meta não pode ser atingida. Se bem que nossas tarefas espirituais, e, por conseguinte, nossas capacidades espirituais, sejam diferentes — assim como as capacidades e os papéis dos membros de uma equipe são diferentes — somos todos iguais aos olhos de D’us, porque se não fizermos o que D’us quer, o mundo não poderá ser repleto de Divindade.

Neste sentido, as restrições quanto a quem possa ser Mashiach não são tão importantes assim, porque sem todos nós juntos, Mashiach não pode ser revelado como Mashiach. E quando formulamos perguntas hipotéticas sobre a Torá, não existe mesmo uma resposta, porque a Torá é a sabedoria de D’us, e não a nossa. Assim, não dá mesmo para entendermos por que D’us decidiu que Mashiach precisa ser um rei, assim como também não podemos compreender por que somente um Cohen pode realizar o serviço dos sacrifícios e por que D’us deu a cada um de nós o ambiente e as capacidades que temos.

Mas sabemos, sim, que Mashiach não é só um líder, ele é uma pessoa com uma específica capacidade espiritual sem igual, achada somente em uma pessoa numa geração inteira. Parte das qualificações para esta capacidade incluem ser um rei, semelhante ao rei ideal da história judaica, o Rei David. E sabemos também que a vinda de Mashiach depende de cada um de nós e de percebermos quais são nossos talentos espirituais exclusivos.